sexta-feira, 1 de outubro de 2010

um passarinho verde..

era uma vez um passarinho verde. ele não sabia nada da vida, tão imaturo, inexperiente, julgava-se conhecedor das belezas do mundo e imune a elas; dizia ser uma pedra. cantava sempre que queria, atraia outros passarinhos com seu canto. depois se cansava desses passarinhos, desafinava ou então parava de cantar de vez. os poucos que entendiam sua tática permaneciam, viravam amigos fieis, e para esses o passarinho verde reservava os seus mais belos cantos no momento que lhes fossem necessários e até nos momentos que não fossem. já os parceiros no amor não duravam muito, o passarinho era exigente e enjoava muito rápido. ás vezes até se fazia de vítima afirmava que o seu canto era o mesmo e que se não estivesse satisfeito a culpa não era dele, chorava ao ouvir coisas como 'então você não tem o que eu quero', mas no fundo havia pedido por aquilo, esperava o ex-parceiro voar e se reconstituía. voltava a cantar, ver as belezas do mundo.
num dia ensolarado desce do céu um pássaro negro. todo negro. penas negras, olhos negros como os de nenhum outro e sempre brilhantes. o passarinho verde começou a cantar mas parou rapidamente. o pássaro preto piou. nos ouvidos do passarinho verde; melodia. pensou em todas as coisas ruins que ele poderia ser: um corvo, um urubu.. mas com esses olhos? então o pássaro negro olha nos olhos do passarinho verde. nesse momento ele fica cego, desnorteado, apaixona-se.
- percebi que você é maravilhoso, passarinho verde, canta pra mim?
o passarinho verde cantou. cantava sem parar, sem nem saber se o pássaro preto continuava lá, mas ainda assim cantava para ele. por vezes sentia as assas grandes do pássaro preto envolvendo-o e cantava ainda mais alegremente. até que um outro dia ensolarado nasceu. brotou do chão a Fenix, alguns dizem que é a ave do diabo, talvez tão sedutora quanto o dono. o pássaro preto olha para baixo e a vê, fica hipnotizado. não sabe-se dizer se ficou pesaroso quando deixou o passarinho verde. provavelmente não, ele ainda enxergava, ainda via o mundo; já passarinho verde não, apenas vivia de cantar para ele, e ainda assim sabia que se o deixasse assim que voltasse o passarinho verde continuaria alí cantando; fizera isso antes, várias vezes.
o pássaro preto voa em direção a ela, se aproxima, fica cego, apaixonado. nesse momento ele vira passarinho, começa a cantar para a Fenix. por vezes até pensou 'queria ouvir o passarinho verde cantar de novo, mas estou cego, não sei mais o caminho', ou talvez não, talvez cantasse demais para pensar em algo.
ela o guiava e eles voaram juntos. o passarinho verde continuou a cantar. até hoje não sabe-se dizer se um dia a Fenix deixará o seu passarinho preto cantando em um galho qualquer e sairá batendo suas assas pra sempre. sabe-se apenas que ela o faz, mas sempre volta. estar sempre com o passarinho preto pouco importa, pois, ela sabe que o passarinho preto agora é cego, e mesmo com ela longe continuará cantando por ela.

Nenhum comentário: